Trecho da matéria publicada na Revista V

Por Ronaldo Bressane

VINÍCIUS ERROU

Em um botequim ao lado de um cemitério, a paulistana Fabiana Cozza nasceu como nova estrela do samba brasileiro. Agora prepara o esperado segundo álbum

´Sinto/ abalada minha calma/ desperdiçada minh?alma´... era o lamento, exultante e em coro, que um passante captou ali flutuando ao lado da Necrópole São Paulo, esquina da Cardeal Arcoverde com a Horácio Lane. ´Não deixes que/ eu venha a sucumbir´..., pedia a voz aveludada, mais alta que o coro, enquanto, fascinado, como que atraído pelo sombrio dístico ´Nós que aqui estamos por vós esperamos´, o passante atirava sua âncora àquele boteco lotado, vizinho aos orixás do cemitério.

A voz comandava a turba de almas, mais bêbadas que penadas, e o passante precisava saber quem é que cantava com tanta propriedade, em registro profundo, entre o alegre e o triste, o clássico de Cartola. O bar se chama Ó do Borogodó, e a voz, o passante ouviu do garçom, pertence a uma mulata de olhar muito vivo e sorriso imantado, de nome Fabiana Cozza.

Conta Ruy Castro que o responsável por apelidar São Paulo de ´túmulo do samba´ foi Vinícius de Moraes. De passagem por um bar paulistano para ouvir Johnny Alf, o poeta ficou revoltado com a falta de cerimônia da platéia, um bando de burgueses babacas que soterrava o piano de um dos pais da bossa nova com comentários deselegantes. Vinícius subiu no palco, puxou o microfone e meteu a boca: ´Johnny, volte pro Rio... São Paulo é o túmulo do samba!´.

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